domingo, 18 de agosto de 2013

40.000 pés

Haviam se passado 2 horas desde que decolamos. Resolvi dormir. Acordei depois de 20 minutos com uma co-ano de pé no corredor, revirando o compartimento de bagagem de mão: “Onde ta minha pasta?” “Pra que?” “Vou ler minhas cartas”. Levantei, ajudei-a a pegar a pasta (que se encontrava abaixo de 20kg de bagagem de mão) e lembrei de que eu também tinha cartas para ler.
Não chorei durante as despedidas, mas, enquanto me encontrava entre uma carta e outra, chorei. Não de tristeza por estar deixando pessoas queridas para trás. Não de medo. Chorei de felicidade. Cada palavra, por mais simples que seja, tinha sua perfeita localização em um texto cuja força poderia mover montanhas. Tudo estava escrito do jeito que deveria ser escrito. Os sentimentos eram os certos. Isso tudo parece certo. Confesso que meu grande momento de desabe foi quando percebi que em uma grande parte das cartas estava a frase: “Tenho muito orgulho de você”. Nada poderia me fazer mais feliz do que provocar esse sentimento em meus amigos. O grande orgulho que sinto é por aquelas pessoas. Leio a última carta. Termina com “You’re my person”. Choro. Felicidade não descreve o que sentia. Era um sentimento novo. Cujo nome nunca vou descobrir. Não sei nem se vou sentir novamente. É como a bebida púrpura. Só pode provar uma vez. A unicidade desse sentimento é o que o torna tão belo.
Me encontro sobrevoando algum lugar entre o Mato Grosso e Rondonia e restam 2:48 horas de vôo até Bogotá. Estou ouvindo o álbum do The Lumineers naTVzinha do assento. Na minha esquerda há uma pessoa maravilhosa, uma pessoa que brilha mais que a luz de leitura do avião (acredite, a luz é MUITO forte). Uma pessoa que tenho a sorte de ter ao meu lado por 2 anos. Na minha direita, tenho o céu. Não existem luzes lá no chão. É como se o céu e o chão tivessem trocado de lugar. As estrelas brilham como verdadeiras cidades. O vermelho da asa do avião se distingue da imensidão preta. Porém o destaque prevalece com as estrelas. Talvez seja o momento. Talvez sejam as estrelas mesmo. Mas brilham diferentemente. Estar 40.000 pés de altura as deixa no horizonte. E que belo horizonte.Em uma das minhas observações, me deparo com a três marias. Lembro de duas pessoas especiais. Sorrio. Termino meu texto. Resolvo dormir. 

2 comentários:

  1. quase chorei... lembrei de ler minhas cartas no avião e chorar sem parar... esse sentimento indescritível

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