sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Fala pra ele que a vida é um balão

De alguma forma, tudo parecia estar errado. O domingo começou chuvoso, quieto e frio. Era como se um clima pesado tivesse se instaurado no campus. Tão pesado que não me deixou levantar da cama por três horas. Preferi o mundo dentro de minhas cobertas ao que, vagarosamente, continuava lá fora. Um silêncio tão angustiante que parecia ensurdecedor. Continuaria por mais uma, duas ou até mesmo três horas envolto nas cobertas se não tivessem vindo me buscar. Um pouco mais de procrastinação no sofá. Faltava energia. Os corpos presentes na sala repousavam, não eram. Foi assim que passou o resto do dia.
Não tinha sentido a falta de privacidade aqui até segunda. Eu e Valentina (Colômbia) resolvemos tomar um chá e conversar sobre os acontecimentos dos últimos dias. Na procura de um lugar sem gente, nos encontramos rondando Montezuma e o quadrado das residências na procura de calmaria. Impossível. Nos contentamos em ficar na esquina do caminho entre Montezuma e Mal País. 
Os últimos dias foram, hum, intensos. Na verdade, foram bem ruins, mas é o que dizem: cada erro uma lição. Foi bom pra perceber que o UWC não é salvo de hipocrisia, até mesmo é propenso a tal fato. Foi bom pra abrir meus olhos que aqui é de fato uma bolha. Vivemos, comemos, estudamos, conversamos, dormimos e encontramos as mesmas pessoas. Isso significa que julgamos as mesmas pessoas. Me senti num legítimo filme adolescente estadunidense.
Outra coisa que me chamou a atenção esses dias é como de fato alguns esteriótipos são verdadeiros. Europeus que acham que tudo funciona perfeitamente no mundo todo. Estadunidenses ignorantes e arrogantes. Frases como "porque pessoas da Jamaica e outras zonas de guerra" e "A América Latina é toda a América do Sul menos o Brasil" foram alguns dos destaques das últimas semanas. Curioso também como comecei a me identificar como latino. Defendo com unhas e dentes o fato de ser americano (não só vocês, estadunidenses!), faço questão de mostrar o quão errados são algumas idéias sobre nossa cultura e até comecei a dançar que nem latino. Talvez parte disso pela semana Sul-Americana, que foi bem legal. 
Encontrei conforto em braços muito especiais e já vejo traços fortes de amizade. Vejo também amizades que achei que seriam fenomenais e duradoras caindo num esquecimento e preguiça. Aqui nada é como parece. Há uma volatilidade e uma inconstância um tanto quanto perturbadoras, provavelmente fruto de todos nós nos adaptando. Por conta da intensidade, vejo meu coração lentamente sendo adquirido por uma nova dona. Traços de "settling" vão aparecendo nessa pequena comunidade nessa cidadela costarricense.

domingo, 15 de setembro de 2013

Down by the river I was drawn by your grace

(Pra variar) Mudei de matérias. Larguei Spanish B HL e troquei por English L&L HL . Larguei English L&L SL pra fazer Self-taught Portuguese. O único problema é que isso me deixou sem NENHUMA matéria em Espanhol, o que é uma droga. Estou considerando fazer TDC ao invés de TOK (a mesma coisa, só que em Espanhol), já que meu professor de agora não é tão bom quanto o de antes de eu mudar de matérias. Uma aula onde tivemos que desenhar mapas e uma discussão desorganizada e vaga não foram exatamente coisas animadoras para uma primeira aula. Continuo pensando...
A respeito dos meus professores, gosto MUITO de todos. Matt (prof de English L&L), Isaac (E. Systems) e Juan Pa (Visual Arts) são meus favoritos. Gosto bastante da Natalie (Psychology), mas nunca conversei direito com ela. Nunca tive uma aula de Self-taught, então não posso falar do Chiranjeet. A respeito do Rodney (Maths), gosto bastante dele, mas nossa relação começou com o pé esquerdo, quando acordei atrasado no meu segundo dia de aula e perdi o primeiro de dois blocos de Maths.
Domingo passado aconteceu uma surpresa feita por nós, primeiros anos, para os segundos anos. Ao invés do tradicional snack na cafeteria, fizemos o snack no Social Center e também fizemos um lipdub agradecendo por tudo que eles fizeram por nós nas primeiras semanas. Também fizemos uns cartões. Foi muito legal ver quanto a minha geração se gosta e ainda mais legal ver o quão bem nossa geração ta começando a dar com a de cima. (Vou colocar o vídeo no fim do post)
Sábado rolou meu primeiro Conociendo Costa Rica, uma série de saídas que o colégio faz pela CR para conhecer outros ambientes que não sejam o Pali Santa Ana. Estava decidido que não iria, então saí sexta à noite sem nenhuma preocupação. Nem coloquei despertador nem nada. Estou eu dormindo quando Heidi (minha tutora e professora de Economics) bate na minha janela me chamando. Fui. Ainda bem que fui. Fomos até uma comunidade praiana chamada Tárcoles, onde visitamos uma cooperativa de pescadores artesanais. Pescamos num barquinho e visitamos a praia de Limoncito, onde havia uma cachoeira maravilhosa.
Hoje rolou a parada de independência de Costa Rica, um dos eventos mais tradicionais do país, onde rola um desfile e o colégio faz parte do desfile de Santa Ana. Foi incrível ver tantas culturas juntas e os trajes típicos (ou não tão típicos assim) se misturando. Uma coisa que me incomodou, no entanto, foi uma mulher da administração ter usado o desfile como um grande marketing do colégio, onde tínhamos que andar em fila, sem dançar ou nada e não uma celebração da Costa Rica. Não digo que tínhamos que sair sambando por aí, mas um pouco mais de liberdade seria bacana. Mas adorei, os ticos são realmente muito legais. Foi estranho e legal ter vários moradores locais pedindo pra tirar fotos com a gente. Recentemente a Costa Rica se classificou pra Copa do Mundo de 2014 (blé), então estavam loucos pelo Brasil!
Amanhã começa a Semana Sul-americana, uma semana onde acontecerão vários eventos, palestras, debates sobre a América do Sul e sua cultura. Sou "responsável" por uma das noites do cinema, onde vão passar "Cidade de Deus'' e um debate sobre os protestos que rolaram por causa do aumento da tarifa. Também to ajudando num workshop de Português que vamos dar. Acho que vais ser bem legal!
Essa semana abriram as inscrições do processo seletivo 2014-2016 do UWC Brasil. Ao mesmo tempo que estou louco para ter meus firsties, não quero por nada do mundo ficar no colégio sem meus amados segundos anos. Mas isso é coisa pra pensar lá longe, o negócio é aproveitar muito enquanto tenho meus dois brasileiros maravilhosos comigo.
Achei um pouco estranho o quanto eu não estou tão homesick. Não sei se é porque eu ainda estou overwhelmed por tudo que está acontecendo. Estou melhorando da minha crise de solidão, encontro conforto em certos ombros aqui. Por motivos bobos, estou meio distante de um ombro que, bom, faz falta. Continuo feliz e isso é o que importa :)
PS: Cahuita ganhou o inter-residential championship, meio aleatório, mas gosto bastante das Cahuitas.


Tárcoles

Brasileiros UWCCR 2013-2014





quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Night tales

Pés quentes. Chão frio. Sinto uma certa vontade deitar no gramado em frente ao anfiteatro e ouvir música. Ando, em passos vagarosos, o quadrado das residências. Apreciando o silêncio que domina, por algumas horas, o caos do campus. Penso em ir até Cahuita #8 roubar um cuddle. Troco um ou outro "hey" durante o caminho. Alemanha, Costa Rica, Iraque e China conversam do lado de fora do meu fone de ouvido. A imensidão azul do sofá de Montezuma me acolhe. "Não é por nada, mas você tá parecendo um zumbi". Uso meu pequeno essay de Visual Arts como desculpa para estar acordado até agora. Estou podre. Dormindo em pé. Mas aproveitei o momento de calmaria pra colocar meus pensamentos no lugar e perceber o quanto odeio e amo o silêncio que toma conta do campus. Penso em quão louco é isso que estou vivendo. Morar numa pequena cidade mil vezes menor que a minha anterior. Andar mais para sair do campus do que para ir até o supermercado. Ter dois roomies de lugares tão distintos. Tanta gente com histórias tão incríveis. Amo o silêncio porque me dá a solidão necessária, impossível de conseguir durante o dia, quando todos lugares do campus possuem gente. Me sinto uma pequena célula num metabolismo tão complexo e belo. Vou até Cahuita #5 buscar um abraço. Tomo juízo e percebo que é tarde demais para isso. Nem abro a porta. Volto pra Montezuma. Uma residência com uma vibe boa. O mais perto que tenho de "casa''. Respiro fundo. Termino o pequeno essay. Odeio esse lugar. Dou mais uma volta pelo quadrado. Amo esse lugar. Assim vou. Me adaptando. Camaleão noturno.

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Eu não sei voar, eu não sei mais nada

O dia começou cedo, acordamos por volta das 6:45 pra irmos pro Roblealto. Um acampamento para primeiros e segundos anos que acontece todo ano. Não vou falar sobre as atividades, porque vai que algum futuro firstie do UWCCR esteja lendo. O acampamento foi, sei lá, normal. Os segundos anos que estavam de camp leaders foram ótimos e fizeram um ótimo trabalho, mas as atividades eram meio repetidas, visto que sempre tinham que tratar das seis competências. A grande quantidade de reflexões forçou um pouco. As melhores coisas foram o show e um momento de reflexão individual, que ajudou muito a colocar meus pensamentos no lugar. Foi um tanto engraçado pensar em como, no acampamento, eu queria voltar pro campus, como se fosse minha casa.
No dia seguinte, já de volta ao colégio, tivemos uma pequena "simulação" de terremoto, já que eles são um tanto quanto comuns aqui na Costa Rica. Ano passado foram dois. Logo após fui com um pessoal até o Multi Plaza, um shopping no meio do caminho entre Santa Ana e San José. De noite, rolou o primeiro Residence Meeting. Ele é um momento onde todo mundo de cada residência se junta pra discutir sobre assuntos do colégio, da residência ou apenas compartilhar algo da cultura. O primeiro meeting foi organizado pelo JD (Juan Diego), meu coordenador de residência e professor de Math Studies e Maths SL, mas geralmente é um dos quartos que organiza. 
Acordei cedo porque tínhamos um tour por San José (capital de Costa Rica). Coloquei o despertador dez minutos depois do que eu iria acordar, já que não estava muito afim de ir. Me vesti devagar e fui em passos lentos até o estacionamento, na esperança de perder a saída do grupo. Não perdi. San José não é exatamente bonita. Mas a mistura duma cidade grande emergindo e a cultura tradicional tica (adjetivo para costarriquenha) me deixava um tanto quanto curioso. Não estava no melhor dos humores e uma dor de estômago monstruosa me acompanhava desde que cheguei do acampamento, então não foi exatamente uma visita agradável.
No dia seguinte, de manhã, rolou um workshop sobre sustentabilidade. Preferi dormir. O almoço desse dia foi diferente, rolou um "churrasco" com todo staff e alunos. De tarde aconteceu o anual Inter-residencial Championship, uma competição de basquete, futebol, fotografia e artes entre as sete residências. Apesar de ser alto, brasileiro e fazer Visual Arts HL, não participei nem de basquete, futebol ou artes. Fui na atividade de fotografia, que na verdade era uma "caça ao tesouro" onde tínhamos que tirar fotos de certos desafios, objetos ou situações. A pontuação final do campeonato só vamos receber em um negócio chamado Community Meeting que eu não faço ideia do que seja. Já de noite, resolvi ir no Estribos com a Amy (Canadá), mas tava bem mortinho e eu, Sheree (Kenya) e Maia (Barbados) voltamos pro colégio no taxi mais fuleiro que já rodou as estradas costarriquenhas.
Sábado e domingo não aconteceu nada demais.
Hoje foi meu primeiro dia de aula. O dia letivo vai das 7:30 até 13:15. Esse horário é dividido em seis blocos de 50 minutos e dois intervalos de 15 minutos. Meus dois primeiros blocos de segunda são livres, ou seja, posso dormir até as 9:10. Só que hoje rolou mais uma palestra do Dave/David (não sei como chamar ele) sobre os schedules (horários de aula) e sobre a política de faltas não justificadas nas aulas. Comecei com dois blocos de Psychology HL. A professora chama Natalie e também é coordenadora de El Coco, uma das residências femininas. Eu acho que gosto dela, apesar de ser meio robótica e jogar informação nos alunos. Em seguida, foram dois blocos de Visual Arts HL. O professor chama Juan Pa. Gosto bastante dele. Ah! Na terça, recebi um email do David falando que eu não podia fazer Psychology e English B HL porque eles estavam no mesmo bloco. Fiquei bem puto porque eram umas das matérias que eu mais queria fazer. Tive que trocar English B HL por Español B HL. Durante a semana fiquei refletindo sobre o Self-taught e o John (diretor de admissões e conselheiro universitário) disse que, se eu quisesse aplicar pruma faculdade estadunidense, eu tinha que fazer Inglês como matéria. Moral da história: troquei  Self-taught por English Language & Literature SL.
Em uma das conversas que tive com Ellie (Escócia) sobre "casa" cheguei a conclusão que sou homeless, já que o Brasil não é minha casa e aqui ainda é um hotel acadêmico. Isso é um tanto quanto estranho. Não pertenço a nenhum grupo de amigos e não pertenço a nenhum lugar. Estou meio flutuando pelas chuvas costarricenses. Em meio a chuvas, calor e novidades, estou feliz. Flutuando, mas fazendo a coisa certa. Ainda vai rolar muita coisa nesse pequeno país na América Central.