segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

"This log. Our log."

     Depois de seis horas num ônibus as expectativas pra noite de ano novo se mantinham as mesmas. Iríamos os dez para uma praia qualquer, veríamos as estrelas, ouviríamos música e, à meia-noite, nos abraçaríamos, faríamos tradições dos respectivos países e assim, de um minuto para o outro, seria um novo ano. Algumas tentativas falhas de ir para uma praia mais movimentada 40 minutos de onde estávamos. Nos contentamos em ficar por lá mesmo. Alguns tentavam arrumar as redes anti-mosquito de suas camas quando alguém disse que era hora de irmos pra praia. No completo breu, seguimos a pequena trilha de cascalho até a praia. A falta da lua foi compensada pela infinidade de estrelas no céu e seu reflexo na água, que, juntos, nos serviam de única fonte de luz.
     Continuamos deitados por quarenta minutos. Conversávamos sobre o ano que passou: vida acadêmica, vida residencial, vida pessoal. Expectativas do ano que vinha e as clássicas (e superestimadas) "New Year's resolutions". Percebi que não tinha nenhuma e confesso que demorei cerca de dez minutos para estabelecer a primeira.  Muito devido ao fato de que, para mim, 2013 ainda era um borrão de informação e acontecimentos. Devido também a minha insistência de que a mudança de ano não significa mudança de caráter. Estranhamente, encontrei conforto nas minhas resoluções. Encontrei conforto também nas outras nove (e logo seriam onze) pessoas que compartilhavam a visão mais bonita que tive na Costa Rica. Lembro-me de, literalmente, cair o queixo quando, numa felicidade extrema, Karen (Colômbia) disse que era possível ver a Via Láctea.
     Sendo eu o responsável pelo relógio e a contagem regressiva, me encontrava olhando o relógio do iPod constantemente. 25, 20, 15, dez, cinco. Alguns se levantam e começam a compartilhar suas resoluções definitivas. Três. Todos de pé. Alguns dando o último shot de 2013, outros compartilhando os pontos altos do ano. Dois. Algumas tradições de ano novo dos respectivos países são colocadas em prática. Um. Garrafa de champagne na mão, todos estavam reunidos em um circulo ao redor do relógio. Zero. Abraços. Sorrisos. "Happy new year". "Feliz año nuevo". "Feliz ano novo". Enquanto Júpiter, previamente confundido com uma estrela extremamente brilhante, iluminava a praia. O brilho estava em cada um de nós. Risadas. Sorrisos. Pular sete ondas. Mais abraços. Era como se lá, repentinamente, criássemos nossas próprias tradições. Era algo que só nós dez saberíamos fazer novamente.
      Alguns goles de champagne e rum depois, a caixa de som já estava sem bateria e nós, já calmos, deitados, apreciávamos mais uma vez a beleza das estrelas naquela noite em especial. Resolvemos conversar. Traçamos nossa "história" (não encontro a expressão certa) desde a primeira vez que notamos um ao outro no campus, passando por as duas noites e suas consequências conturbadas, a falta de comunicação durante Outubro até chegarmos onde estávamos. Me encontrei novamente me contrariando ao confiar que novos anos equivalem a novos começos: concordamos que tudo o que aconteceu em 2013, ficaria em 2013. Brindamos. "So, what is this?". Não soube responder. Ela também não. Sorrimos e continuamos a conversar até que, duas horas depois, era o ano novo em seu país. Já era tarde e acordaríamos cedo.
     Assim se passaram as primeiras horas que procederam e começaram 2014.
    

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