Raro. Em Espanhol mesmo. Única palavra que eu encontro pra descrever o que passou nesses últimos dois meses. Esta vai ser uma tentativa de catch up com tudo que aconteceu e, quem sabe, refletir na minha confusão interna. First things first...
Três dias antes de vir para o colégio, fui para Bogotá, visitar a Valentina, minha segundo ano. Estar em um intermédio entre Costa Rica e Brasil me trouxe uma calma na alma. Algo difícil de explicar. O Português me falha e as palavras não parecem fluir naturalmente. Enfim... conheci e me apaixonei pela capital colombiana. Tudo me parecia uma mistura de Brasil, oeste Europeu e, em horas, EUA. Talvez foi o pôr-do-sol e o canelazo no topo do Monserrate, ou a conversa, ajiaco e comida árabe com Valen, sua mãe e Gabriel (Colômbia - meu terceiro ano). Mas algo naquela cidade criou um sentimento de conforto.
Poucas semanas antes de viajar, a Avianca me ligou informando que meu voo pra Costa Rica tinha sido cancelado e me rearranjaram (pode isso, produção?) outro sete horas depois. Nenhum problema. Achei que viajaria sozinho, quando, de repente, escuto "Pietro?!". JuanSe (Colômbia) estava no mesmo voo e não sabia. Os encontros continuaram quando, na fila para a imigração, Nishmed (México) e, na retirada de bagagem (baggage claim?), Maia (Barbados), Kayleigh (Barbados) e Mahmoud (Sudão) se juntaram a nós. A umidade do país trazia, ao mesmo tempo, uma sensação de frescor e peso.
Cheguei no campus e, instantaneamente, fui para Cahuita. Não me lembro de todos que vi, mas lembro da sensação de estar de volta em casa. Resolvi, então, ir para Montezuma. JD não estava, então fui buscar as chaves de meu novo quarto (Montezuma #5) com sua esposa. Sentei na minha cama e fiquei, maravilhado, olhando o quadrado residencial pela janela. Uma das maiores felicidades ao saber que meu quarto era no andar de cima, além de não ter a mão atacada pelo ventilador toda semana, era a vista que eu tenho do campus.
Os quatro dias antes dos primeiros anos chegarem foram incríveis. Frisbee, Amigos, rum, sleepovers, conversas, choros e risadas. Era como se nunca tivéssemos deixado esse lugar. And so they came... Minha buddy, Ailen (Paraguai) foi uma dos primeiros firsties a chegar. Assim como quando cheguei no meu primeiro ano, arrastei-a pro fruit market onde comemos pupusas. Meus colegas de quarto - Dustin (Suiça/São Cristovão e Neves) e Federico (Argentina) - chegaram poucas horas depois.
Era estranho ter os primeiros anos aqui. Não porque eles "estão tomando o lugar dos nossos segundos anos", mas porque eles pareciam tão self-sufficient que fez com que os primeiros dias tivessem um pouco de distinção entre as gerações: eles e nós. Isso durou um certo tempo, mas agora, existem mais intersecções e nos damos bem. Como todo segundo ano, tive meus momentos de ódio, onde só queria que eles fossem embora. Em horas, parece que eles não tem o mesmo respeito que tínhamos com nossos segundos anos ou com esse lugar. Acho que a conexão emocional é algo que ainda está por vir.
Especialmente no UWCCR, temos a cultura de passdowns, coisas que nossos segundos anos nos dão. Passdowns vão desde danças, eventos, objetos até títulos, ações e livros. Logo na semana de orientação, tivemos dois shows onde apresentamos grande parte deles. Também: raro. Tantas danças associadas com certas pessoas sendo feitas por outras. Não sei. Algo muito pessoal que não vale os caracteres, não é possível entender se não está aqui.
Dentre esse ultimo mês e meio, muitas coisas me tiraram do eixo. Mudanças nas regras do colégio tornaram esse lugar, muitas vezes, em uma prisão onde falta confiança e comunicação entre estudantes e administração. Como sempre, me envolvi em tantas coisas quanto pude, resultado: fui camp leader, sou diretor do musical, vice-presidente do conselho estudantil, chefe da equipe de mídia da MUN e parte do time organizador do TEDx. Muitas coisas e pouco tempo. Clássico problema de um UWCer. Acrescente também a pressão do IB e o processo de inscrição para universidades (tomei a decisão de ir pros EUA em um liberal arts college). Me encontro muitas vezes na beira de um breakdown. Ás vezes me acalma deitar em Cahuita #6, ás vezes só me estressa mais.
Como disse: raro. O lugar não é o mesmo, as pessoas não são as mesmas e eu não sou o mesmo. O problema é que meu cérebro não está muito afim de processar isso de uma vez e, cá estou, struggling com diversas coisas. Mas, como diz meu IB Buddy: "chilly days ahead". Lentamente as coisas vão fazendo sentido e tomando lugar. Incluso eu. Sei lá...