quarta-feira, 1 de outubro de 2014

Porque soy de los que se llevan la lluvia

     Raro. Em Espanhol mesmo. Única palavra que eu encontro pra descrever o que passou nesses últimos dois meses. Esta vai ser uma tentativa de catch up com tudo que aconteceu e, quem sabe, refletir na minha confusão interna. First things first...
      Três dias antes de vir para o colégio, fui para Bogotá, visitar a Valentina, minha segundo ano. Estar em um intermédio entre Costa Rica e Brasil me trouxe uma calma na alma. Algo difícil de explicar. O Português me falha e as palavras não parecem fluir naturalmente. Enfim... conheci e me apaixonei pela capital colombiana. Tudo me parecia uma mistura de Brasil, oeste Europeu e, em horas, EUA. Talvez foi o pôr-do-sol e o canelazo no topo do Monserrate, ou a conversa, ajiaco e comida árabe com Valen, sua mãe e Gabriel (Colômbia - meu terceiro ano). Mas algo naquela cidade criou um sentimento de conforto. 
     Poucas semanas antes de viajar, a Avianca me ligou informando que meu voo pra Costa Rica tinha sido cancelado e me rearranjaram (pode isso, produção?) outro sete horas depois. Nenhum problema. Achei que viajaria sozinho, quando, de repente, escuto "Pietro?!". JuanSe (Colômbia) estava no mesmo voo e não sabia. Os encontros continuaram quando, na fila para a imigração, Nishmed (México) e, na retirada de bagagem (baggage claim?), Maia (Barbados), Kayleigh (Barbados) e Mahmoud (Sudão) se juntaram a nós. A umidade do país trazia, ao mesmo tempo, uma sensação de frescor e peso. 
     Cheguei no campus e, instantaneamente, fui para Cahuita. Não me lembro de todos que vi, mas lembro da sensação de estar de volta em casa. Resolvi, então, ir para Montezuma. JD não estava, então fui buscar as chaves de meu novo quarto (Montezuma #5) com sua esposa. Sentei na minha cama e fiquei, maravilhado, olhando o quadrado residencial pela janela.  Uma das maiores felicidades ao saber que meu quarto era no andar de cima, além de não ter a mão atacada pelo ventilador toda semana, era a vista que eu tenho do campus.
      Os quatro dias antes dos primeiros anos chegarem foram incríveis. Frisbee, Amigos, rum, sleepovers, conversas, choros e risadas. Era como se nunca tivéssemos deixado esse lugar. And so they came... Minha buddy, Ailen (Paraguai) foi uma dos primeiros firsties a chegar. Assim como quando cheguei no meu primeiro ano, arrastei-a pro fruit market onde comemos pupusas. Meus colegas de quarto - Dustin (Suiça/São Cristovão e Neves) e Federico (Argentina) - chegaram poucas horas depois.
      Era estranho ter os primeiros anos aqui. Não porque eles "estão tomando o lugar dos nossos segundos anos", mas porque eles pareciam tão self-sufficient que fez com que os primeiros dias tivessem um pouco de distinção entre as gerações: eles e nós. Isso durou um certo tempo, mas agora, existem mais intersecções e nos damos bem. Como todo segundo ano, tive meus momentos de ódio, onde só queria que eles fossem embora. Em horas, parece que eles não tem o mesmo respeito que tínhamos com nossos segundos anos ou com esse lugar. Acho que a conexão emocional é algo que ainda está por vir.
     Especialmente no UWCCR, temos a cultura de passdowns, coisas que nossos segundos anos nos dão. Passdowns vão desde danças, eventos, objetos até títulos, ações e livros. Logo na semana de orientação, tivemos dois shows onde apresentamos grande parte deles. Também: raro. Tantas danças associadas com certas pessoas  sendo feitas por outras. Não sei. Algo muito pessoal que não vale os caracteres, não é possível entender se não está aqui.
     Dentre esse ultimo mês e meio, muitas coisas me tiraram do eixo. Mudanças nas regras do colégio tornaram esse lugar, muitas vezes, em uma prisão onde falta confiança e comunicação entre estudantes e administração. Como sempre, me envolvi em tantas coisas quanto pude, resultado: fui camp leader, sou diretor do musical, vice-presidente do conselho estudantil, chefe da equipe de mídia da MUN e parte do time organizador do TEDx. Muitas coisas e pouco tempo. Clássico problema de um UWCer. Acrescente também a pressão do IB e o processo de inscrição para universidades (tomei a decisão de ir pros EUA em um liberal arts college). Me encontro muitas vezes na beira de um breakdown. Ás vezes me acalma deitar em Cahuita #6, ás vezes só me estressa mais.
     Como disse: raro. O lugar não é o mesmo, as pessoas não são as mesmas e eu não sou o mesmo. O problema é que meu cérebro não está muito afim de processar isso de uma vez e, cá estou, struggling com diversas coisas. Mas, como diz meu IB Buddy: "chilly days ahead". Lentamente as coisas vão fazendo sentido e tomando lugar. Incluso eu. Sei lá...

quinta-feira, 24 de julho de 2014

In the morning I'll be with you, but it will be a different kind

     Tudo entre o Passdown Show e a decolagem do avião não foi inteiramente processado pela minha mente. A quantidade de emoções (e álcool) envolvidas tornaria a tentativa um tanto quanto pífia. Pouco a pouco vou entendendo que muitas das coisas do "mundo real" não se aplicam à bolha que vivo. Minhas semanas de mau humor e cansaço foram instantaneamente convertidas a nostalgia quando, entre uma das deliciosas risadas da Kelly (Botsuana) e o refrão de "Piano Man", fruto do show surpresa dos professores na cafeteria, tudo "fell  into place" e uma vontade de ficar lá para sempre me dominou. Pequenas surpresas iam fazendo meus dias. O presente da Robin (Holanda), o cochilo em Flamingo #6 ou o almoço no gramado com Dilly (País de Gales) e Isaac (EUA - professor de E. Systems). Não havia IB, preocupações ou stress. Nosso único problema eram os poucos dias que restavam.
      Eu ia recontar o resto dos momentos que antecederam a volta para o Brasil e como tudo fluía naturalmente, mas parei aqui e decidi que não o faria. Por enquanto, ao menos... Sempre há aquela memória que você quer só para você. Pra mim, essa memória é a eternidade do passado que não volta mais, mas que também não deixo ir a lugar nenhum. Está tudo gravado em mim em algum lugar entre a pele e a alma.

sábado, 14 de junho de 2014

Meeting again

A man who had not seen Mr. K. for a long time greeted him with the words: "You haven't changed a bit" "Oh!" said Mr. K. and turned pale.

- Bertold Brecht



Sobre os dois últimos poemas: ás vezes, as palavras que mais expressam o que sinto não são as minhas...

sábado, 7 de junho de 2014

Soneto da relação

"tão felizes
que parecem se odiar
tão tristes
que não conseguem ficar um sem o outro

tão sozinhos
que parecem só sonhar
tão juntos
que não importa a distância, nem um pouco

talvez por um triz
escape da dor
de ser amigo

agora me diz
qual história de amor
faz sentido?"

- Kleber Moonfeel

segunda-feira, 2 de junho de 2014

I'm in a strange state of mind

     Provas. Virose coletiva no campus. Três sick-days. Terceiros anos aparecendo em todos os lugares. Término de provas. Feria Verde. Passiflora. Calle 13. Group 4 project. Outing. Último open mic/Evening Cafe do ano. Outro outing. Passdown show. Graduation. Ônibus. Avião. A grande maioria deles regado de álcool e/ou choro. Ao reler (?) o blog de uma quinto-ano, me deparei com a seguinte frase "where days feel like weeks and weeks feel like days", usada sabiamente para descrever a vida no UWC Costa Rica. Essas duas semanas passaram rápidas como uma hora, mas carregavam intensidades de algo cercano (já não sei se estou falando Português ou Espanhol, ou até mesmo os dois misturados com Inglês) de vinte. Em geral, acho que assim também se passou o (quase) ano. Tão rápido, mas tão cheio. 
      Percebi que minha percepção do mundo não se baseia em tempo. Bom, até certo ponto. Começo a lembrar dos momentos, mas não dos dias. Debato em minha mente se foi numa segunda-feira ou se, na verdade, foi naquela quinta-feira, porque choveu e eu lembro do meu all star estar cheio de lama. Guardo lembranças desse (ou daquele, já que estou no Brasil) lugar naquela sacola de papel verde. Uma semente pra recordar da saída de E. Systems. O lacre do vinho do October Break. O permiso de primeiro de Maio, em que, assim como todos os outros permisos, digo que vou pro Cachi. A bandeirinha da Imperial, taken com muita coragem pós-tequila. O bilhete de ônibus da Service Week. O lacre de mala da "Turtle trip". As mulheres de Marcela. O bilhete de André. O estúpido pedaço de madeira daquele dia com o pôr-do-sol no hill, só não mais estúpido que a moeda de 5 colones que os caixas do Pali insistem em dar. Todos eles ocupam minha atual parede. A foto polaroid antiga de família, localizada ao lado do cartão-postal do ano é a única coisa do Brasil. Todo o resto são pequenos pedacinhos de gente que eu amo, de lugares que eu amo. Pequenos pedacinhos de casa. 

quarta-feira, 14 de maio de 2014

Poema de dois versos

Um abraço e uma garrafa de tequila
O simples desejo de coisas tão complexas

Darte un beso de desayuno

     É como quando temos aquele sonho em que estamos caindo. A fração de segundo entre o sonho e a realização de que a queda livre é produto de uma mente cansada. É ali que me encontro. Quando penso em Agosto e como tomava como garantia os infinitos nove meses que o seguiriam, ignorando fortemente os conselhos que julgava superestimados de como o tempo passa rápido aqui no UWC. Parece que isso foi ontem e, estranhamente, ao mesmo tempo, que fazem eras. Nove meses que valem quanto? Um ano? Dois? Três? Dez? Cem? 
   Só sei que agora são 1:40 da manhã e eu deveria estar dormindo. Não há queda livre que possa ser impedida. O contato com o chão é iminente. Resta tentar amortecer a queda.



Fragmentos de algum compartimento do meu cérebro que foi super-utilizado no paper 1 de Psychology