domingo, 29 de dezembro de 2013

But I don't wanna go, but it's time to leave

         O campus está silencioso, assim como eu. Lentamente o português foge da ponta da língua e aglutina-se no fundo da garganta. Algo parece diferente. Talvez seja a nova disposição dos móveis do quarto ou talvez seja o fato de que metade da luzes de natal queimaram. Talvez o que mudou fui eu. Estar no UWC deixou de ser o sonho e agora é uma realidade tão concreta quanto o fogo no isqueiro entre meus dedos. Todo o entusiasmo inicial aparenta estar escondido em algum lugar dentro de mim ou espalhado em cada uma das pessoas que foram pra suas hmm... casas? lares? países?
        Geralmente antes de deitar a cabeça no travesseiro, fico imaginando como vai ser sair de um campus vazio e voltar com ele cheio. Como vai ser encontrar novamente todo mundo? Será que voltar pra casa afetou eles tanto quanto ficar no campus me afetou? Me repreendo ao afirmar que estou overthinking toda a situação e me contento com uma noite de sono. Ainda somos nós. Ainda. Numa visão geral, acho que minha reflexão (ugh) durante o break foi benéfica. Talvez não havia tanto assim pra pensar e as respostas fossem simples e estiveram lá todo tempo. Me encontro com a tendência de complicar demais tudo o que está acontecendo por aqui numa tentativa um tanto quanto falha de processar a avalanche de informação e coisas acontecendo aqui. 
         Enquanto eu estiver na service week vai sair a lista dos convocados pra segunda fase do processo seletivo do UWC Brasil. Me dei conta que não estou pronto para primeiros anos. Em menos de cinco meses eu já vou estar de volta e será o fim da experiência dos segundos anos no colégio e o início fora dele. Possivelmente essa é a hora que eu começo a perceber que existe tanta gente incrível no colégio que eu não conheci e seja a hora de conhecer. Aliás, isso é uma das coisas que devo muito ao December break, a chance de conhecer pessoas maravilhosas que, há um mês, eram quase que estranhas.
          Esse é meu último post de 2013. Um ano um tanto quanto bom. Cheio de oportunidades e aprendizados. Que 2014 seja ainda melhor. (melhor parar porque isso já tá virando mensagem de final de ano da Globo).

        Fico ouvindo The Lumineers e pensando em tudo que a gente poderia ter sido. Ouço Disclosure e penso em tudo que a gente poderá ser. 



sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Weep little lion man, you're not as brave as you were on the start

     Começou na quinta-feira, quando, as 23:30, fui raptado por um dinamarquês, uma indiana e dois brasileiros. O que parece tão estranho e digno de começo de piada, aqui no UWCCR é só um de vários momentos e tradições. Descalço, vendado e apanhando. Foi assim que me levaram pro Social Center pruma comemoração de aniversário, três dias antes da data de fato. No dia seguinte a Vitoria (Brasil) organizou um potluck dinner na Greenhouse à luz de velas e luzinhas de natal. Muito bolo, risadas e gente querida fez a noite uma das melhores que já tive aqui.
     Como toda sexta-feira, resolvemos ir até o Amigos. Acabou que, além de ser a última noite do semestre, também foi usada pra comemorar meu aniversário. Nunca vi aquele lugar tão cheio, nem mesmo na primeira noite do October Break. É engraçado ver que, quando não há ninguém do colégio, o bar nada mais é que um lugar super creepy cheio de ticos. Mas quando as pessoas do colégio estão, aquilo vira um outro lugar. Enfim, a noite estava boa até um ou outro acontecimentos um tanto quanto decepcionantes que me fizeram pensar. Voltei com Marcela (minha segundo ano) pro campus e, numa medida com o intuito de extravasar, fomos até o campo de frisbee (ou de futebol, como preferir) e tivemos um dos meus momentos favoritos no campus. A noite se arrastou numa mistura de felicidade, decepção, raiva e visão embaçada.
     Resolvi ir pra Flamingo #5 encontrar a Maia (Barbados), que iria embora em quatro horas. Deitei na cama da Valentina (Colômbia) e, entre a conversa com Maia e Kayleigh (Barbados), dormi. Acordei às 3:45 com a Maia com a mala fechada e dizendo que precisava ir pro estacionamento porque o ônibus saía em 15 minutos. Foi aí que me liguei que as pessoas começaram a ir embora. See you in a month. Happy holidays. Enjoy your break. Disfrute. Feliz navidad. Minha mama Latina, meu roommate, meus segundos anos. Estranho como cada ônibus era um pedaço de mim indo pra bem longe. Estranho como cada uma dessas pessoas já me conquistou de uma forma tão súbita e deliciosa. Estranho como esse lugar e essas pessoas me surpreendem cada vez mais.
     Dormi em El Coco #6 e, durante a noite, fui acordado algumas vezes com Happy birthday! Feliz cumpleaños!, confesso que, de sono, não lembro de todos. No ônibus das quatro, rolou um parabéns coletivo em Espanhol, Inglês e até mesmo Português. Resolvi que queria uma aniversário chill. Almoçamos no gramado, passei tempo com a Vitória e de noite, fui pro quarto da Oriana (Venezuela) com mais umas pessoas pra comer bolo e assistir filme. O que começou com uma sessão coletiva de "Meninas Malvadas" terminou com uma dance party surpresa com todas as músicas que, por tudo que passamos aqui, carregam um significado muito especial. Meu aniversário não podia ter terminado de melhor forma.
Potluck dinner
      Resolvi tirar Dezembro pra descansar e refletir. Tentar, ao menos, absorver tudo isso que passou e me preparar pro que ainda há de vir. Me encanta estar acá.

Krijstian (Macedônia), Vitoria, Mahmoud (Sudão), Hannah (Bolívia), Sheree (Kenya), eu, Oriana (Venezuela) e Indi (Costa Rica) na noite do meu aniversário

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

La espina dorsal del planeta es mi cordillera

    O ensaio do ato latino pro First Year Show começou estranho. Todo mundo meio envergonhado e travado. Um ou outra tomaram a liderança e foi indo. Até chegar na metade da dança, quando o stress já dominava metade da sala 9, minha sala favorita do campus. Entre um passo de Limbo e outro de Choque, íamos nos acalmando e o clima começou a ficar mais amigável. Faltando 20 minutos pro fim do jantar resolvemos encerrar lá mesmo.
    Saímos, no grupo, em direção à cafeteria. Alguns chineses e mais três, talvez quatro pessoas, também estavam lá. Seria um jantar como qualquer outro. Fico feliz que não foi. Fomos nos acumulando na mesma mesa. Onde cabiam 8 estavam 18. Conversas em Espanhol (e, até um pouquinho de Portunhol, confesso) dominavam a cafeteria. Então, barulhentos como somos, começamos a cantar. Calle 13, Juanes, Shakira, entres outros. Sugeri uma música em Português e obtive a resposta de "Cállate, brasileño!" (só na zoera) da Clara (Chile/Holanda) e, instantaneamente, respondi "Cállate, europea". No canto do olho vi um espanhol de perdendo o sorriso do rosto. Não entendo porque os espanhóis são considerados latinos, mas... Acabamos por cantar "Ai se eu te pego" e "Oração". Entre sorrisos, risadas e cantorias, passaram-se 40 minutos. Se não tivéssemos lições, trabalhos e reuniões, ficávamos mais 40. 
    Narrando assim parece um momento bobo, até mesmo babaca. Para mim, foi um dos momentos mais bonitos e gostosos que passei aqui no UWCCR até agora. Nunca me considerei latino-latino, até mesmo mais europeu que latino #sddsSofia. Não esperava nem passar muito tempo com os latinos aqui no colégio. Erro meu. Não existe grupo cultural mais maravilhoso que a família latino-americana. Cada dia me apaixono mais e mais por essas 19 pessoas incríveis que eu tive a sorte de conhecer. E assim vai o UWC, me fazendo aprender mais sobre os outros e sobre mim mesmo. Fico feliz em acabar o post afirmando que nunca fui tão latino quanto agora e isso me trás uma felicidade imensa.


"Soy lo que me enseño mi padre, el que no quiere a su patria, no quiere su madre. Soy América Latina, un pueblo sin piernas, pero que camina."


terça-feira, 12 de novembro de 2013

Quedarme

"Acabou o primeiro trimestre". Foi assim que a ficha, que há meses não caia, caiu. Entre uma prova e outra deixava minha cabeça pesar no travesseiro e refletir sobre esses últimos dois (quase três) meses. Reflexão que durava dois minutos até lembrar de que tinha um trabalho ou lição de casa. Procrastinava um pouco com eles. Fazia o mesmo com meus pensamentos. "Daqui a pouco eu lido com eles". Clássica tendência minha. Arrumava a cama, o quarto e meu guarda-roupas. Abria as estúpidas cortinas verdes de Montezuma na procura de alguma luz. Só para ter meu colega de quarto reclamando que queria dormir e estava muito claro. Uma breve discussão sobre como ele troca o dia pela noite (que não leva a nada).
O dia-a-dia se mistura com rotina. E eu odeio rotina. Vou chegar na cafeteria 5 minutos antes das aulas começarem e insistir que dá tempo de esperar na fila pra pegar comida, fazer um chá e ir pra sala. O que geralmente resulta num Pietro discretamente correndo para a sala de aula. Vou me preocupar em acordar pra aula de Self-Taught. Sei que a resposta pra "Pollo o carne?" (Frango ou carne? em Espanhol) na voz da linda da Tia Rosi vai ser sempre pollo. Já odiar ir pro CAS. Planejar como eu vou matar Yoga e pensar o quão estúpido foi escolher um CAS de sexta-feira.
Uma tosse infernal. Uma alemã tipicamente mandona e controladora. Mil coisas pra planejar pro First Year Show. Um pequeno estresse acadêmico. Pequenas coisas começam a me irritar. Assim como pequenas coisas começam a me encantar cada vez mais. Uma recompensa acadêmica em forma de 35. Um abraço. Uma frase. Usar calça depois de meses sem. Faltar menos de um mês para eu ver a Sil. Entrar pro cast do musical. Estar aqui.
"Through chaos as it swirls", cada dia que passa o campus fica mais bonito. Culpa da chegada da "dry season". Culpa maior ainda das pessoas que aqui vivem. Dois intensos meses de vivência me fizeram perceber quanta beleza há dentro de certas pessoas (e quanta feiura dentro de outras). Poder andar pelo quadrado residencial e soltar um "Hey" para algumas pessoas que posso chamar de casa e outros "Hey" para rostos que, infelizmente, se tornaram paisagem faz parte da dança que virou meu dia-a-dia. Coreografada em certos aspectos, improvisada em outros. Dou meus passos, sinto o ritmo da música e aproveito. Já que, infelizmente, a música dessa dança só dura dois anos. Me conforto sabendo que essa é só a primeira de muitas danças.

- Te quedas aquí en el break?
- Afortunadamente, sí
- Afortunadamente?
- Por supuesto! No hay ningún lugar donde prefiero estar.



terça-feira, 5 de novembro de 2013

Passam pássaros e aviões

Primeiramente, desculpa por não ter postado tanto. O IB finalmente começou a aparecer e estava (meio que estou) em semana de provas e trabalhos. O 7 em Math Studies é a única nota trimestral que tenho (e o provável 4 em English L&L). Vale lembrar que as notas aqui vão de 1 a 7. Enfim...
Segundamente (eu sei que isso não existe, mas é pra ilustrar a decadência do meu Português aqui), o October Break foi bom. Meio tormentado, mas bom. A casa era maravilhosa, com uma varanda gigante que dava no topo das árvores e era cheia de macacos! A praia era ótima, com um por-do-sol fenomenal (e eu quase me afoguei). Foi bom sair do campus e respirar um pouco sem o curfew ou os quiet times.
Na semana seguinte rolou a MUN. Como disse antes, fui o Lesotho no UN Women. Ticos ricos e (alguns) esnobes não me deram uma ideia muito boa das private schools daqui, mas conheci umas pessoas muito legais e outras que até vão aplicar pra cá! Nossas discussões focaram bastante na educação como base da mudança no comportamento sexista de diversas sociedades e na educação sexual. Houve também dificuldade em adaptar medidas para países mais conversadores (cof Lesotho cof) em que educação sexual não era uma opção. Gostei bastante! No final, acabei ganhando o "prêmio" (?) de melhor delegado no meu comitê :)
Nesse fim de semana aconteceu um evento organizado por alunos chamado 40 Hour Famine, onde você tinha que abir mão de algo por 40 horas. No meu caso, foi falar Inglês e Espanhol e também meu colchão. Ver, falar, comer, um teto, cama e dar opinião foram alguns entre muitas coisas que as pessoas abriram mão. A necessidade de falar e não ser entendido e as dores por todo corpo foram fatores significativos nas minhas 40 horas.

Esse pequeno uptade é só pra não deixar crescer teias de aranha aqui no blog, depois falo mais de como estou e como tá a vida residencial.

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Casa, Lesoto e Manuéis Antônios

Essas semanas foram cheias. Cena latina, brunch de aniversário da Clara (Chile/Holanda), dois Student Gathering (quando todos os alunos, e apenas nós, nos reunimos pra discutir um assunto relacionado ao campus, um deles foi a adoção de uma medida nada agradável para os Tios e as Tias -funcionários da manutenção e cafeteria- e o outro sobre consumo de álcool), mudei de matéria (de novo): TOK em Inglês para TOK em Espanhol (agora tenho pelo menos uma matéria em Espanhol!!!), um 4 (de 7) em English L&L, um 6 (de 7) em Psychology, fui host do Evening Café (uma micro coffee shop organizada pelos alunos aqui no campus mesmo) com a Maia (Barbados) e eu, Fabiha (Zâmbia) e Margot (Holanda) começamos o Feminist Club! Estou animado, uma galera bem bacana se inscreveu, acho que vai ser bem bom.
No Community Meeting anunciaram três coisas mais importantes: o musical desse ano vai ser West Side Story, vai rolar nos dias 1, 2 e 3 de Novembro a 40 Hour Famine (quando temos que abdicar de algo, seja comida, cama, falar, o que quiser que tenha algum significado) e estou considerando ficar sem meu colchão e sem falar e uma competição inter-residencial de reciclagem.
Semana que vem rola a MUN (Model United Nations - Modelo das Nações Unidas), onde simulamos uma reunião da ONU. Meu comitê é o UN Women, que vai discutir assuntos relacionados à mulher. Os três tópicos são: empoderamento econômico das mulheres, estupro e abuso sexual em países em desenvolvimento e AIDS/HIV em mulheres de países em desenvolvimento. Meu país é o Lesoto (também conhecido como a bolinha dentro da África do Sul), que tem bastante coisa pra falar nos três tópicos. O país não é exatamente o mais feminista do mundo, então vou ter que controlar bastante esse meu lado pra defender os ideais e morais do meu país na simulação. Vamos ver o que vai dar...
Voltei ontem do First Year Camp, um acampamento (como diz o nome) para os primeiros anos organizado pelos psicólogos do colégio e alguns segundos anos. Diferente do Roblealto, esse acampamento foi incrivelmente bom. Não vou especificar sobre as atividades já que meu futuro firstie pode estar lendo isso (hehe), mas foi realmente uma volta de 180 graus na minha relação com o colégio. A atividade da noite de segunda foi intensa, uma reflexão acompanhada de muito choro e muito abraço. Foi ali que nossa geração se uniu. Quando fomos para o refeitório do camp, fiquei sentado por 20 minutos só olhando e admirando as pessoas com quem vou passar dois maravilhosos anos (creepy, eu sei, mas era uma coisa linda de se ver). Foi ali também que descobri que não estou em casa fisicamente, o campus nunca vai ser minha casa, assim como o Brasil agora também não é. Encontro minha casa em cada um dos 200 membros dessa comunidade incrível, porque "home is (where the pants aren't) where the heart is" e meu coração está com cada um daqueles seres humanos maravilhosos. Nunca me senti tão feliz aqui. Estamos no October Break (lê-se maravilhosa semana sem aulas) e amanhã vou pra praia! Manuel Antônio, um parque nacional no Pacífico! Vai ser bom sair dos ares de Santa Ana.
Pura Vida!

PS: é até surpreendentemente grande a quantidade de gente que se inscreve pro UWC só pelo IB, acho estranho e bem blé

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Oi

Sei que to meio sem postar, mas essa semana vou escrever. Juro!
Hoje to indo pro first year camp então provavelmente na quarta!

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Diálogo de quarteirão da igreja

Margot: "Não sei por que as pessoas gostam tanto de fazer isso."
Eu: "Isso o que?"
Margot: "Sair sempre."
Eu: "Sei lá! Pra mim é bom sair da bolha."
Margot: "Mas toda sexta e sábado você vai pro mesmo bar com as mesmas pessoas da bolha!"
Eu: "Ah, verdade! Mas não sei, tem alguma coisa boa em sair do sufoco dos portões. Não é o lugar ou as pessoas, acho que é só sair do campus mesmo. Poder respirar."
Margot: "Não entendo isso."
Eu: "Eu também não, mas sei lá."

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Fala pra ele que a vida é um balão

De alguma forma, tudo parecia estar errado. O domingo começou chuvoso, quieto e frio. Era como se um clima pesado tivesse se instaurado no campus. Tão pesado que não me deixou levantar da cama por três horas. Preferi o mundo dentro de minhas cobertas ao que, vagarosamente, continuava lá fora. Um silêncio tão angustiante que parecia ensurdecedor. Continuaria por mais uma, duas ou até mesmo três horas envolto nas cobertas se não tivessem vindo me buscar. Um pouco mais de procrastinação no sofá. Faltava energia. Os corpos presentes na sala repousavam, não eram. Foi assim que passou o resto do dia.
Não tinha sentido a falta de privacidade aqui até segunda. Eu e Valentina (Colômbia) resolvemos tomar um chá e conversar sobre os acontecimentos dos últimos dias. Na procura de um lugar sem gente, nos encontramos rondando Montezuma e o quadrado das residências na procura de calmaria. Impossível. Nos contentamos em ficar na esquina do caminho entre Montezuma e Mal País. 
Os últimos dias foram, hum, intensos. Na verdade, foram bem ruins, mas é o que dizem: cada erro uma lição. Foi bom pra perceber que o UWC não é salvo de hipocrisia, até mesmo é propenso a tal fato. Foi bom pra abrir meus olhos que aqui é de fato uma bolha. Vivemos, comemos, estudamos, conversamos, dormimos e encontramos as mesmas pessoas. Isso significa que julgamos as mesmas pessoas. Me senti num legítimo filme adolescente estadunidense.
Outra coisa que me chamou a atenção esses dias é como de fato alguns esteriótipos são verdadeiros. Europeus que acham que tudo funciona perfeitamente no mundo todo. Estadunidenses ignorantes e arrogantes. Frases como "porque pessoas da Jamaica e outras zonas de guerra" e "A América Latina é toda a América do Sul menos o Brasil" foram alguns dos destaques das últimas semanas. Curioso também como comecei a me identificar como latino. Defendo com unhas e dentes o fato de ser americano (não só vocês, estadunidenses!), faço questão de mostrar o quão errados são algumas idéias sobre nossa cultura e até comecei a dançar que nem latino. Talvez parte disso pela semana Sul-Americana, que foi bem legal. 
Encontrei conforto em braços muito especiais e já vejo traços fortes de amizade. Vejo também amizades que achei que seriam fenomenais e duradoras caindo num esquecimento e preguiça. Aqui nada é como parece. Há uma volatilidade e uma inconstância um tanto quanto perturbadoras, provavelmente fruto de todos nós nos adaptando. Por conta da intensidade, vejo meu coração lentamente sendo adquirido por uma nova dona. Traços de "settling" vão aparecendo nessa pequena comunidade nessa cidadela costarricense.

domingo, 15 de setembro de 2013

Down by the river I was drawn by your grace

(Pra variar) Mudei de matérias. Larguei Spanish B HL e troquei por English L&L HL . Larguei English L&L SL pra fazer Self-taught Portuguese. O único problema é que isso me deixou sem NENHUMA matéria em Espanhol, o que é uma droga. Estou considerando fazer TDC ao invés de TOK (a mesma coisa, só que em Espanhol), já que meu professor de agora não é tão bom quanto o de antes de eu mudar de matérias. Uma aula onde tivemos que desenhar mapas e uma discussão desorganizada e vaga não foram exatamente coisas animadoras para uma primeira aula. Continuo pensando...
A respeito dos meus professores, gosto MUITO de todos. Matt (prof de English L&L), Isaac (E. Systems) e Juan Pa (Visual Arts) são meus favoritos. Gosto bastante da Natalie (Psychology), mas nunca conversei direito com ela. Nunca tive uma aula de Self-taught, então não posso falar do Chiranjeet. A respeito do Rodney (Maths), gosto bastante dele, mas nossa relação começou com o pé esquerdo, quando acordei atrasado no meu segundo dia de aula e perdi o primeiro de dois blocos de Maths.
Domingo passado aconteceu uma surpresa feita por nós, primeiros anos, para os segundos anos. Ao invés do tradicional snack na cafeteria, fizemos o snack no Social Center e também fizemos um lipdub agradecendo por tudo que eles fizeram por nós nas primeiras semanas. Também fizemos uns cartões. Foi muito legal ver quanto a minha geração se gosta e ainda mais legal ver o quão bem nossa geração ta começando a dar com a de cima. (Vou colocar o vídeo no fim do post)
Sábado rolou meu primeiro Conociendo Costa Rica, uma série de saídas que o colégio faz pela CR para conhecer outros ambientes que não sejam o Pali Santa Ana. Estava decidido que não iria, então saí sexta à noite sem nenhuma preocupação. Nem coloquei despertador nem nada. Estou eu dormindo quando Heidi (minha tutora e professora de Economics) bate na minha janela me chamando. Fui. Ainda bem que fui. Fomos até uma comunidade praiana chamada Tárcoles, onde visitamos uma cooperativa de pescadores artesanais. Pescamos num barquinho e visitamos a praia de Limoncito, onde havia uma cachoeira maravilhosa.
Hoje rolou a parada de independência de Costa Rica, um dos eventos mais tradicionais do país, onde rola um desfile e o colégio faz parte do desfile de Santa Ana. Foi incrível ver tantas culturas juntas e os trajes típicos (ou não tão típicos assim) se misturando. Uma coisa que me incomodou, no entanto, foi uma mulher da administração ter usado o desfile como um grande marketing do colégio, onde tínhamos que andar em fila, sem dançar ou nada e não uma celebração da Costa Rica. Não digo que tínhamos que sair sambando por aí, mas um pouco mais de liberdade seria bacana. Mas adorei, os ticos são realmente muito legais. Foi estranho e legal ter vários moradores locais pedindo pra tirar fotos com a gente. Recentemente a Costa Rica se classificou pra Copa do Mundo de 2014 (blé), então estavam loucos pelo Brasil!
Amanhã começa a Semana Sul-americana, uma semana onde acontecerão vários eventos, palestras, debates sobre a América do Sul e sua cultura. Sou "responsável" por uma das noites do cinema, onde vão passar "Cidade de Deus'' e um debate sobre os protestos que rolaram por causa do aumento da tarifa. Também to ajudando num workshop de Português que vamos dar. Acho que vais ser bem legal!
Essa semana abriram as inscrições do processo seletivo 2014-2016 do UWC Brasil. Ao mesmo tempo que estou louco para ter meus firsties, não quero por nada do mundo ficar no colégio sem meus amados segundos anos. Mas isso é coisa pra pensar lá longe, o negócio é aproveitar muito enquanto tenho meus dois brasileiros maravilhosos comigo.
Achei um pouco estranho o quanto eu não estou tão homesick. Não sei se é porque eu ainda estou overwhelmed por tudo que está acontecendo. Estou melhorando da minha crise de solidão, encontro conforto em certos ombros aqui. Por motivos bobos, estou meio distante de um ombro que, bom, faz falta. Continuo feliz e isso é o que importa :)
PS: Cahuita ganhou o inter-residential championship, meio aleatório, mas gosto bastante das Cahuitas.


Tárcoles

Brasileiros UWCCR 2013-2014





quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Night tales

Pés quentes. Chão frio. Sinto uma certa vontade deitar no gramado em frente ao anfiteatro e ouvir música. Ando, em passos vagarosos, o quadrado das residências. Apreciando o silêncio que domina, por algumas horas, o caos do campus. Penso em ir até Cahuita #8 roubar um cuddle. Troco um ou outro "hey" durante o caminho. Alemanha, Costa Rica, Iraque e China conversam do lado de fora do meu fone de ouvido. A imensidão azul do sofá de Montezuma me acolhe. "Não é por nada, mas você tá parecendo um zumbi". Uso meu pequeno essay de Visual Arts como desculpa para estar acordado até agora. Estou podre. Dormindo em pé. Mas aproveitei o momento de calmaria pra colocar meus pensamentos no lugar e perceber o quanto odeio e amo o silêncio que toma conta do campus. Penso em quão louco é isso que estou vivendo. Morar numa pequena cidade mil vezes menor que a minha anterior. Andar mais para sair do campus do que para ir até o supermercado. Ter dois roomies de lugares tão distintos. Tanta gente com histórias tão incríveis. Amo o silêncio porque me dá a solidão necessária, impossível de conseguir durante o dia, quando todos lugares do campus possuem gente. Me sinto uma pequena célula num metabolismo tão complexo e belo. Vou até Cahuita #5 buscar um abraço. Tomo juízo e percebo que é tarde demais para isso. Nem abro a porta. Volto pra Montezuma. Uma residência com uma vibe boa. O mais perto que tenho de "casa''. Respiro fundo. Termino o pequeno essay. Odeio esse lugar. Dou mais uma volta pelo quadrado. Amo esse lugar. Assim vou. Me adaptando. Camaleão noturno.

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Eu não sei voar, eu não sei mais nada

O dia começou cedo, acordamos por volta das 6:45 pra irmos pro Roblealto. Um acampamento para primeiros e segundos anos que acontece todo ano. Não vou falar sobre as atividades, porque vai que algum futuro firstie do UWCCR esteja lendo. O acampamento foi, sei lá, normal. Os segundos anos que estavam de camp leaders foram ótimos e fizeram um ótimo trabalho, mas as atividades eram meio repetidas, visto que sempre tinham que tratar das seis competências. A grande quantidade de reflexões forçou um pouco. As melhores coisas foram o show e um momento de reflexão individual, que ajudou muito a colocar meus pensamentos no lugar. Foi um tanto engraçado pensar em como, no acampamento, eu queria voltar pro campus, como se fosse minha casa.
No dia seguinte, já de volta ao colégio, tivemos uma pequena "simulação" de terremoto, já que eles são um tanto quanto comuns aqui na Costa Rica. Ano passado foram dois. Logo após fui com um pessoal até o Multi Plaza, um shopping no meio do caminho entre Santa Ana e San José. De noite, rolou o primeiro Residence Meeting. Ele é um momento onde todo mundo de cada residência se junta pra discutir sobre assuntos do colégio, da residência ou apenas compartilhar algo da cultura. O primeiro meeting foi organizado pelo JD (Juan Diego), meu coordenador de residência e professor de Math Studies e Maths SL, mas geralmente é um dos quartos que organiza. 
Acordei cedo porque tínhamos um tour por San José (capital de Costa Rica). Coloquei o despertador dez minutos depois do que eu iria acordar, já que não estava muito afim de ir. Me vesti devagar e fui em passos lentos até o estacionamento, na esperança de perder a saída do grupo. Não perdi. San José não é exatamente bonita. Mas a mistura duma cidade grande emergindo e a cultura tradicional tica (adjetivo para costarriquenha) me deixava um tanto quanto curioso. Não estava no melhor dos humores e uma dor de estômago monstruosa me acompanhava desde que cheguei do acampamento, então não foi exatamente uma visita agradável.
No dia seguinte, de manhã, rolou um workshop sobre sustentabilidade. Preferi dormir. O almoço desse dia foi diferente, rolou um "churrasco" com todo staff e alunos. De tarde aconteceu o anual Inter-residencial Championship, uma competição de basquete, futebol, fotografia e artes entre as sete residências. Apesar de ser alto, brasileiro e fazer Visual Arts HL, não participei nem de basquete, futebol ou artes. Fui na atividade de fotografia, que na verdade era uma "caça ao tesouro" onde tínhamos que tirar fotos de certos desafios, objetos ou situações. A pontuação final do campeonato só vamos receber em um negócio chamado Community Meeting que eu não faço ideia do que seja. Já de noite, resolvi ir no Estribos com a Amy (Canadá), mas tava bem mortinho e eu, Sheree (Kenya) e Maia (Barbados) voltamos pro colégio no taxi mais fuleiro que já rodou as estradas costarriquenhas.
Sábado e domingo não aconteceu nada demais.
Hoje foi meu primeiro dia de aula. O dia letivo vai das 7:30 até 13:15. Esse horário é dividido em seis blocos de 50 minutos e dois intervalos de 15 minutos. Meus dois primeiros blocos de segunda são livres, ou seja, posso dormir até as 9:10. Só que hoje rolou mais uma palestra do Dave/David (não sei como chamar ele) sobre os schedules (horários de aula) e sobre a política de faltas não justificadas nas aulas. Comecei com dois blocos de Psychology HL. A professora chama Natalie e também é coordenadora de El Coco, uma das residências femininas. Eu acho que gosto dela, apesar de ser meio robótica e jogar informação nos alunos. Em seguida, foram dois blocos de Visual Arts HL. O professor chama Juan Pa. Gosto bastante dele. Ah! Na terça, recebi um email do David falando que eu não podia fazer Psychology e English B HL porque eles estavam no mesmo bloco. Fiquei bem puto porque eram umas das matérias que eu mais queria fazer. Tive que trocar English B HL por Español B HL. Durante a semana fiquei refletindo sobre o Self-taught e o John (diretor de admissões e conselheiro universitário) disse que, se eu quisesse aplicar pruma faculdade estadunidense, eu tinha que fazer Inglês como matéria. Moral da história: troquei  Self-taught por English Language & Literature SL.
Em uma das conversas que tive com Ellie (Escócia) sobre "casa" cheguei a conclusão que sou homeless, já que o Brasil não é minha casa e aqui ainda é um hotel acadêmico. Isso é um tanto quanto estranho. Não pertenço a nenhum grupo de amigos e não pertenço a nenhum lugar. Estou meio flutuando pelas chuvas costarricenses. Em meio a chuvas, calor e novidades, estou feliz. Flutuando, mas fazendo a coisa certa. Ainda vai rolar muita coisa nesse pequeno país na América Central.

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Ready? Let's roll on to something new

Me encontro em um dos meus lugares favoritos do campus: as mesas no meio do quadrado das residências. Acordei tarde pro café-da-manhã, então só consegui pegar um chá na cafeteria.
Primeiro, os acontecimentos dos últimos dois dias. Quinta, como disse, rolaram os placement tests. Os de Espanhol, Inglês e Matemática foram bem tranquilos. Consegui ficar com Español B HL (mas ainda não sei se vou fazer Espanhol ou self-taught), English Language & Literature HL (resolvi fazer English B HL, porque me identifiquei mais com o curso e a professora é linda) e Mathematics HL (consegui 22 de 25 pontos na prova! Mesmo assim, não sou louco de pegar Maths HL e fiquei com Maths SL). Já o placement test de Visual Arts, bom, nunca desenhei bem, mas a sorte era que o desenho era só uma das cinco questões. Aparentemente as quatro das questões e o meu portfólio chocho funcionaram e consegui entrar em Visual Arts HL!
Sexta, o dia começou com duas "palestras". Uma foi do cara do IT (informática) e outro do Student Council. Nos reunimos com nossos tutores para escolhermos nossas matérias. Fiquei com: Self-taught Portuguese SL, English B HL, Psychology HL, E. Systems SL, Mathematics SL e Visual Arts HL. HL e SL são duas "divisões" de aula no IB, não é que HL (Higher Level) seja mais difícil que SL (Standart Level), a diferença é que possui mais carga horária, portanto, mais matérias. De tarde tivemos uma palestra sobre o Competencies Project, que não entendi pra que serve porque dormi no meio. De noite, rolou um negócio bem legal chamado Open House, onde os alunos passam nas casas dos staffs/professores que moram no campus e comem uma coisinha.  Resolvemos ir no Estribo's, um sports bar perto do colégio, só que, chegando lá, os professores tiveram a mesma ideia.
Sábado não fiz nada demais, fiquei no campus conversando. Resolvemos ir, de novo, no Estribo's, dessa vez sem professores. Foi bem legal. Joguei pebolim, basquete e sinuca. Ri bastante. Voltei pro colégio e fiquei conversando até as 4:30 com Sebastian (Costa Rica), Maia (Barbados) e Alison (Reino Unido). Quando fui dormir, Taisala (Nova Zelândia) estava dormindo na minha cama, então fui dormir em Cahuita.
Domingo fez uma semana que eu estou aqui. Parece bem mais. Fui na feira de frutas. Comprei morango e amoras, ambos consumidos com voracidade e muito leite condensado. De noite rolou o Pass Down Show, onde os second years apresentaram várias danças ou cantaram. Rolou uma pseudo-festa depois.
Estou muito feliz. Apesar de que, em alguns momentos, a solidão também bate, mesmo estando em um lugar tão cheio de gente. É comum se sentir "out of place", mas isso acaba logo.



quinta-feira, 22 de agosto de 2013

400 metros norte de la iglesia catolica de Santa Ana

Chegamos em San José por volta das nove. Fomos recepcionados por Maria Laura (Equador), Gaía (México), Jennifer (Costa Rica), Elisa (El Salvador) e Xintong (Hong Kong). Esperamos uns dez minutinhos para a chegada do meu co-ano Gabriel (Guatemala). Na van do colégio, era possível ver as montanhas que cercam Santa Ana e uma quantidade um tanto quanto grande de fast-foods estadunidenses.
Foi incrivelmente maravilhosa a sensação de entrar no campus e ver meus e outros seconds tão animados com nossa chegada. Conheci meus roommates Ali (Iraque) e Max (Alasca). Meu quarto é o #1 em Montezuma. São sete residências: três masculinas (Mal País, Montezuma e Tortuguero) e quatro femininas (Cahuita, El Coco, Flamingo e Hermosa).  Logo em seguida, saímos para a tradicional feira de frutas de Santa Ana: eu, Evan (Canadá), Julian (EUA/Itália), Marcela (Brasil), Emma (EUA), Amiya (Índia), André (Brasil) e Vit (Brasil). Apesar da confusão de firsties chegando e novidades por todo lado, o dia foi bem tranquilo e super legal.
No dia seguinte, fomos logo cedinho para a cidade tomar smoothies (muitas pessoas para colocar o nome de cada). Almocei fora num restaurante chamado Taco Bar. Uma coisa engraçada: os endereços aqui são muito estranhos/diferentes. O restaurante por exemplo fica "frente a Mas X Menos" (um supermercado) e o colégio fica "400 metros norte de la iglesia catolica de Santa Ana". De tarde, rolou um jogo de frisbee (não é o que você está pensando. É mais hardcore do que jogar um pratinho de plástico pro ar) que foi interrompido pela chuva, mas logo voltamos a jogar. No fim da tarde fomos eu, Gavin (EUA), Kate (Nova Zelândia/Japão), Mona (Alemanha), Vit (Brasil), Margot (Holanda) e Eleanor (Holanda) até o Mas X Menos (lê-se Mas por menos), um supermercado tipo Wal-mart que tem tudo, até leite condensado! De noite, tivemos umas atividades no social center.
Na terça (20), começaram as palestras. O diretor do colégio, Mauricio,  falou um pouco sobre a escola e o staff. O John, diretor de admissões e conselheiro universitário, falou um pouco. Leila, diretora de vida residencial, falou sobre regras, expectativas e bom, vida residencial. Almocei com meu tutor group e Heidi, minha tutora. O jantar foi diferente. Cada residencia teve um jantar com seus coordenadores na própria residência. Aqui em Montezuma, comemos um tipo de taco/burrito com carne/frango e uns pseudo-nachos que estavam muito bons. Tivemos também umas atividades de integração e sharing. Depois do jantar rolou a famosa Montezuma Party (a primeira festa do ano acadêmico). Foi INSANA e incrivelmente maravilhosa. No aguardo das outras festas de residências para ver se são do mesmo nível da grande Montezuma!
Hoje foi um dia mais acadêmico. O dia começou com uma palestra do David, diretor acadêmico, que apresentou o IB, o esquema de matérias e esse tipo de coisa. Em seguida tivemos a Academic Fair, onde assistimos os professores falando sobre suas matérias e vemos quais mais gostamos. Vi as de English L&L, English B, Self-taught (não entendi nada dessa porque o professor tem um sotaque indiano muito forte e só falou de números, provas e escolhas de livros/gêneros), Environmental Systems and Societies, Psychology, Maths e Visual Arts (que, se feita em HL - Higher Level, é a matéria mais difícil do IB, pelo menos é o que dizem. Só sei que todos saíram da sala com medo da matéria!). No jantar, tive reunião de sul-americanos para planejarmos a semana temática. Em seguida, rolou mais uma atividade e uma fogueira. Fiquei ouvindo música com a Bella (Irlanda) por um tempinho e agora estou aqui escrevendo.  
Amanhã vão rolar os placement tests, ou seja, provas para saber em que nível de English, Spanish, Maths e Arts estamos. Sinto que vou razoável nas línguas, mandar bem mal em Maths já que não brinco de contar fazem 2 meses e Arts é o mistério, tenho um pseudo-portfolio e um desenho feito as pressas, então, tá na mão do Juan Pa (professor de Artes).
A comida da cafeteria é bem boa, diferente do que eu achei que seria. As tias e os tios (como chamamos os funcionários aqui) fazem um ótimo trabalho. O campus é maravilhoso. As residências são iguais fisicamente, variam na decoração. É um tanto quando fácil se perder no campus porque as coisas são muito parecidas e interligadas por esses caminhos cobertos que são MUITO parecidos. Depois de dois dias já consigo me localizar e não me perco, o que é ótimo! Já vi um guaxinim e duas iguanas. Por enquanto quero fazer Self-taught SL, English B HL, Psychology HL, E. Systems and Societies SL, Mathematics SL e Visual Arts HL.
Me sinto muito bem aqui. Parece certo. O ambiente tem um astral legal. Estou só um pouco homesick. Uma sensação coletiva rola fortemente aqui. Os seconds morrem de saudade dos seus seconds (meus thirds). Os firsties se sentem deslocados, sem um grupo de amigos e meio sem rumo, mas isso é normal visto que todos nós estamos em uma nova situação.

Esse post é bem descritivo e pouco pessoal e sentimental, porque vários seconds disseram para escrever sobre a Intro Week para não esquecer, já que é tanta coisa em pouco tempo.

Estou vivo e MUITO feliz! Pura Vida!

Algumas fotos:
Caminhos cobertos que estão por todo campus

Montezuma Party

História verídica


Meu quarto (minha cama/prateleira é a do meio) 
Bella (Irlanda), eu e Vit (Brasil)

domingo, 18 de agosto de 2013

40.000 pés

Haviam se passado 2 horas desde que decolamos. Resolvi dormir. Acordei depois de 20 minutos com uma co-ano de pé no corredor, revirando o compartimento de bagagem de mão: “Onde ta minha pasta?” “Pra que?” “Vou ler minhas cartas”. Levantei, ajudei-a a pegar a pasta (que se encontrava abaixo de 20kg de bagagem de mão) e lembrei de que eu também tinha cartas para ler.
Não chorei durante as despedidas, mas, enquanto me encontrava entre uma carta e outra, chorei. Não de tristeza por estar deixando pessoas queridas para trás. Não de medo. Chorei de felicidade. Cada palavra, por mais simples que seja, tinha sua perfeita localização em um texto cuja força poderia mover montanhas. Tudo estava escrito do jeito que deveria ser escrito. Os sentimentos eram os certos. Isso tudo parece certo. Confesso que meu grande momento de desabe foi quando percebi que em uma grande parte das cartas estava a frase: “Tenho muito orgulho de você”. Nada poderia me fazer mais feliz do que provocar esse sentimento em meus amigos. O grande orgulho que sinto é por aquelas pessoas. Leio a última carta. Termina com “You’re my person”. Choro. Felicidade não descreve o que sentia. Era um sentimento novo. Cujo nome nunca vou descobrir. Não sei nem se vou sentir novamente. É como a bebida púrpura. Só pode provar uma vez. A unicidade desse sentimento é o que o torna tão belo.
Me encontro sobrevoando algum lugar entre o Mato Grosso e Rondonia e restam 2:48 horas de vôo até Bogotá. Estou ouvindo o álbum do The Lumineers naTVzinha do assento. Na minha esquerda há uma pessoa maravilhosa, uma pessoa que brilha mais que a luz de leitura do avião (acredite, a luz é MUITO forte). Uma pessoa que tenho a sorte de ter ao meu lado por 2 anos. Na minha direita, tenho o céu. Não existem luzes lá no chão. É como se o céu e o chão tivessem trocado de lugar. As estrelas brilham como verdadeiras cidades. O vermelho da asa do avião se distingue da imensidão preta. Porém o destaque prevalece com as estrelas. Talvez seja o momento. Talvez sejam as estrelas mesmo. Mas brilham diferentemente. Estar 40.000 pés de altura as deixa no horizonte. E que belo horizonte.Em uma das minhas observações, me deparo com a três marias. Lembro de duas pessoas especiais. Sorrio. Termino meu texto. Resolvo dormir. 

sábado, 17 de agosto de 2013

Nóis que voa

Eu e Vit no aeroporto :)

Sente-se

13 meses. Esse é o tempo que separa quando conheci o UWC e minha ida ao colégio. Seria díficil, até mesmo impossível, imaginar onde e como estou agora. Não sou o mesmo Pietro. Ou melhor, sou. Não melhor. Nem pior. A essência prevalece. A constância da metamorfose é a chave do indivíduo.
22 horas. Esse é o tempo que separa o momento que escrevo esse post do momento em que estou no avião indo para o colégio. O Pietro de agora sente saudades. Saudades dos amigos que viu há 3 horas. Saudades da família que vai ver daqui há 6 horas. Mas acima de tudo, sente vontade. Vontade de ir agora. Vontade de pular. Entrar de peito e cabeça aberta no mundo fantasioso de 13 meses atrás. Sente-se também sortudo. De ter uma co-ano a qual possui um carinho enorme. De ter mais seis co-anos incríveis que pode contar sempre com e também pode ser contado. De ter dois segundos anos extremamente atenciosos e carinhosos, verdadeiros pais. Ter também terceiros e segundos ano que carregam parte do meu coração e mente com eles sempre. Sortudo por fazer parte de uma nova família. Sortudo por fazer parte da mesma família há 16 anos, a quem deve tudo que sabe. Sortudo por ter selecionadores fenomenais a quem deve a vida por receber essa oportunidade. Sente-se feliz. Ansioso. Aterrorizado. Corajoso. Sente-se metamórfico. Sente-se tudo. Sente-se nada. Carregando uma moeda furada ao redor do pescoço e junto ao peito, sente-se protegido.
O Pietro de 22 horas depois. Não sente. Não é. Vai ser. Será. Será?



So show me family
All the blood that I will bleed
I don't know where I belong
I don't know where I went wrong

terça-feira, 13 de agosto de 2013

"Me sacode às seis horas da manhã"

Brigadeiro do Nonna
Açaí
Contar os minutos pro fim da aula do Lizânias
Segunda do strogonoff
Terça da parmegiana
Quarta da feijoada
Quinta do frango à milanesa
Os 10 minutos de intervalo
847P-10
15:15
Frente e verso. Arial 12. Justificado. Espaçamento 1,5.
Entrar todo dia com o pé direito
Roubarem meu lanche
O rodízio
"Tamo aqui" da Pins
"Amanhã sou eu?"
Brigar com a minha irmã pra ver quem atende o telefone
Esquecer de dar comida pro peixe
Reiniciar o roteador
O barulho do carregador do celular
As minas de TPM coletiva
Sushi latindo paras cachorros que passam na frente de casa
Juca fazendo barrigão
Shime chorando
Minha rua
Ver a casa da Lara da minha janela
Minha parede azul
A bandeirinha da Dinamarca
Piadas do Waguinho
A inflação atingindo o Bola semestralmente
Armário 53A
Os dois minutos de mistério que antecedem descobrir em que sala a Lauren está

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

"Buquês são flores mortas num lindo arranjo, arranjo feito pra você"

Assim como nos últimos cinco dias, peguei o metrô na Vila Madalena em direção à estação Brigadeiro. Como sempre, estava atrasado. Entrei no vagão. Sentei. Abri meu livro e comecei a ler. Chegando na estação Trianon-Masp, o fluxo usual de pessoas entrou e saiu do vagão. Uma mulher de preto sentou ao meu lado. Tirou o celular do bolso e ligou para alguém. Continuei lendo: "só mais um parágrafo, na próxima estação tenho que descer". Então percebi que a mulher que sentou ao meu lado estava chorando. Diversos olhares curiosos olhavam para ela. Levantei e fui em direção a porta. Foi então que ouvi a mulher dizer à sua irmã que sua mãe havia morrido. Nesse instante cheguei na estação. Desci do trem. No pequeno intervalo de tempo entre o vagão e a escada rolante, virei o rosto e vi uma outra mulher, que não conhecia a que chorava, abraçando-a.
Subi as escadas com milhares de pensamentos martelando minha cabeça. Cheguei a conclusão que talvez Criolo estivesse errado, de fato existe amor em SP. Afinal, aquilo nada mais foi que uma bela demonstração de amor ao próximo. Ainda mais em um lugar tão caótico e apressado quando o metrô. Deixei escapar um sorriso de canto.
Andando pela Paulista em direção à Treze de Maio, vi um morador de rua deitado ao lado de um ponto de ônibus, dentre as 20 pessoas que esperavam lá, nenhuma aparentava estar ciente da presença do homem. Era como se ele fosse um panfleto amassado. Uma bituca de cigarro. O homem havia virado parte da calçada. Uma normalidade em meio ao caos da avenida. Perdi o sorriso. E cada dia mais, concordo com Criolo. Não existe amor em SP.

segunda-feira, 22 de julho de 2013

Bota-fora

O fim de semana do Bota-fora começou na sexta, bem cedinho. Fomos eu, Sofia (UWCiM), Vit (UWCCR) e Let (RCNUWC) buscar Fabio (UWCSEA) e Noleto (UWCiM) no metrô. Durante a tarde juntaram-se a nós o resto dos co-anos, Tati (UWCAd) e Wesley (UWCAd). Passamos o dia conversando e rindo e rachando. Faltou apenas a Louise (MUWCI) que estava no Canadá (sem piadinha infame).
Sexta, fizemos um tour bacaninha pelo centro de SP. A visita ao Museu da Língua Portuguesa confirmou que vou de fato fazer Português self-taught no colégio. De noite fomos para a casa do Ricardo (UWCAC) num rolezinho super gostoso. De fato, ri MUITO nessa noite. 
Após uma noite de apenas 3 horas de sono, fomos até a Casa da Amizade, uma organização incrível que fica em Paraisópolis, uma das maiores favelas de SP. Não consigo colocar em palavras o quão maravilhosas eram as crianças, super abertas, receptivas e carinhosas. Se você mora em SP ou até mesmo se não mora, entra em contato com eles que vale a pena demais! É um trabalho fenomenal.
SIilvéria, Gabriela e Mikael (três das crianças da CA) nos levaram até a casa do Gaudi de Paraisópolis, apelido dado ao Estevão da Conceição, um artista fenomenal que transformou sua casa numa obra de arte maravilhosa. 
Por fim, tivemos uma confraternização na casa do João (Pearson UWC), meu selecionador de convívio, com o comitê e nossos segundos anos. Foi incrível rever tantos rostos que passaram pelo meu processo seletivo e conhecer tantos outros novos que já morro de saudade. 
Foi um fim de semana um tanto quanto estranho. Chega até a ser engraçado o quanto está demorando para cair a ficha. O sonho que me acompanha desde junho/julho finalmente se concretizando.

Ainda estou meio (muito) sentimental e confuso a respeito de tudo. Daqui um tempinho escrevo sobre o que se passou (e passa) em minha cabeça agora. Ficam aqui algumas fotos de um dos fins de semana mais gostosos dos últimos tempos.

Geração 2013-2015 (falta Louise) e o UWC mais fail da história
Gerações de UWC Costa Rica

UWC Brasil 

Clara (MUWCI 2012-2014) no prédio do Banespa

Sofia (UWCiM 2012-2014)

Casa da Amizade

Borboletas de mosaico na Casa da Amizade

Lud (UWCSEA 2011-2013), Silvéria, Yasmin e Mikael

Confraternização

Eu e Kelly (RCNUWC 2011-2013)

Sofia (?)

"To rachando" - Silvia (UWC-USA 2011-2013)

Por fim. Cheguei a conclusão do dilema do último post. Enquanto lia o fim do blog da Kelly (RCNUWC), minha terceiro ano, me deparei com a seguinte frase: "Até mais! Por que adeus, adeus não existe.". E de fato é isso. A vida nada mais é do que um conjunto de até logos. Uns longos, outros curtos e alguns, eventualmente, intermináveis. No entanto, todos incertos. 

Fica aqui, então, meu até logo!

sexta-feira, 28 de junho de 2013

"Do livro" (parte 3)


CAPITULO 5:
Era isso. Tudo o que eu possivelmente poderia fazer estava feito. Tudo o que eu poderia fazer era esperar. Pareciam (e foram) anos. Não fiquei tão calmo quanto esperei ficar. Até que enfim, numa tarde de maio (got it, huh?), enquanto estava sozinho em casa, deitado na cama fazendo o exercício 63 a) do relatório de matrizes, o telefone tocou. Olhei o número. Prefixo de novo, mas, não! Não era telemarketing! Era o Rodrigo (aquele do capítulo 4) me ligando pra oferecer uma vaga no colégio da Costa Rica! EU? O QUE? SERIO? OBRIGADO! OBRIGADO! Tremia tanto. Liguei pra minha mãe, não atendeu. Liguei pra minha irmã. Contei a notícia pra minha familia! Só os vi no dia seguinte, mas ah!, tudo estava lindo. Na velocidade da luz (valeu, Facebook), chegou minha terceiro ano fofíssima! Logo em seguida, eles. Meus segundos anos maravilhosos, atenciosos, fofos e queridos,  André e Marcela! Logo nos falamos no skype e, aí sim, tudo começou a fazer sentido. Era meu sonho virando realidade! (Um destaque pro skype  maravilhoso que tive com minha indiana favorita!)
Nas curvas da vida, depois de fazermos a prova na mesma sala, entrevista em horarios grudados e irmos para o convivio juntos (entre outros encontros), eu e a menina da blusa azul iriamos para o mesmo colégio! Vit era minha coa!! Assim terminamos (ou começamos):



CAPITULO 6, 7, 8, 9, 10, 11, 12....:
Era isso. Dezembro, Janeiro, Fevereiro, Março, Abril, Maio. Todo esse processo chegou ao fim. Mas não. Não é o fim! Tenho um começo gigante chegando logo logo, em 50 dias vou estar finalmente no meu colégio UWC. Não tenho expectativas. Quero chegar lá de cabeça e peito aberto. Minha tarde de maio acaba de começar.

(peço desculpas sinceras pela divisão cliche em capitulos, foi a maneira que achei pra me expressar/organizar, além disso o blog é meu!)
(ficam aqui os devidos créditos ao Machado de Assis pelos títulos dos últimos posts)

sexta-feira, 21 de junho de 2013

"Do livro" (parte 2)

CAPÍTULO 3:
(acabei de ter um deja-vu escrevendo esse post, achei pertinente contar) Durante a espera pela entrevista comecei a falar mais com a japonesa, coloquemos pingos nos is, Kuro. Falavamos 4 horas seguidas sem perceber o tempo passando. Um dia ela me colocou num chat com uma galera que também tinha passado pra entrevista. Me senti um forasteiro, mas, no jeito Pietro, fui me entrosando. Poderia falar horas e horas das coisas sem noção que falávamos, dos debates, mas quem estava lá, sabe. (sdds patricks). Novamente, sem saber, estavam lá pessoas extremamente especiais (incluindo 4 co-anos).
Pra minha surpresa, a menina de blusa azul também estava lá! Ficamos amigos de cara. 80% do que gastei com SMS foi com a santa blusa azul.
Enfim, chegou a entrevista. Demorei um pouco pra dormir. A mesma Mostariana (?, novamente) me manda uma mensagem na noite anterior. Me tranquilizei. Acordei, tomei outro café-da-manhã meia boca. Sai meio atrasado. Desde que acordei fiquei trocando SMS com a coisa da blusa azul. Ela tinha a entrevista logo após a minha. Cheguei no local da prova. Encontrei minha amiga azul, que, por acaso, havia pego o endereço errado. Tocamos a campainha. Nada. Por fim, chegaram os entrevistadores e uma ex-aluna (a quem devo MUITOS obrigados, visto que conseguiu tranquilizar minha mãe). Entrei. Fiz a entrevista. Saí. Achei que tive um desempenho mediano.
Aí sim a espera me matou. O cronograma havia sido alterado e a data dos resultados da entrevista estava meio indefinida. Pedi o iPhone da Nena (sim, Neu, seu cabelo ta bonito) trocentas vezes pra entrar no site e ver se já tinha saído a lista. Nada. Um dia, estava tranquilo em casa. Toca o telefone. Prefixo, ugh, jurava que era telemarketing. Não. Era minha entrevistadora. Eu havia passado pro convívio. EU? O QUE? SÉRIO? OBRIGADO! OBRIGADO! Voei pro quarto da minha irmã. Pulei nela. Pulamos juntos. Aí sim, tudo estava ficando concreto.
Saiu, enfim, a lista. Pessoas queridissimas (incluindo a de blusa azul) haviam passado! No entanto, outras igualmente queridas, não.

CAPÍTULO 4:
E lá estava eu. Selecionado para ir para "O" convivio. Misterioso. Secreto. Intenso (argh, como odiava essa definição dele). Fizemos um grupo e um chat com os selecionados. Sem sombra de dúvidas eram pessoas incríveis. Passou o tempo. Chegou o esperado dia! Justamente no aniversário de 18 da minha irmã (e aniversário de uma co-ano indiana queridíssima!). O encontro era, novamente, no Santa Cruz. Como sempre, trocava SMS com a menina da blusa azul. Descobri, então, que ela havia ido pro METRO SANTA CRUZ, porque, segundo ela, fazia todo sentido que o colégio ficasse perto do metro. Não fica. Mandei ela ir até a estação Vila Madalena que buscava ela lá e iriamos juntos. Chegamos um pouco atrasados, mas chegamos! Foi surreal! Ver pessoas conhecidas pela internet ao vivo! Me senti tão bem!
Tivemos uma palestra com o Rodrigo, diretor financeiro do UWC (novamente, mal sabia eu..) que era mais voltada para os pais. Por mais que queira, não posso falar nada desse fim de semana delicioso e... intenso. Só digo que o convivio em si já vale MUITO a pena! Daria tudo por aquele fim de semana de novo! Ilê ayê.
Fica aqui meu sincero obrigado para Bianca (ridícula), Fabio, Kuro, Ju, Lanna, Let, Lou, Noleto, Mariah, Nina, Vini, Vit, Tati e Wes por tudo. Vocês são especiais!


quinta-feira, 20 de junho de 2013

"Do livro" (parte 1)

(Dividi esse post, pois estava MUITO grande)

PRÓLOGO:
Nasci em 1996, dia 8 de Dezembro pra ser mais exato. São Paulo, capital. Filho de um administrador de empresa e uma estatística, Hugo e Sandra. Tenho uma irmã mais velha, Manuela. 
Louco por Biologia, ainda mais louco por Psicologia, já que nem tudo é explicado por fatos concretos. 
Artista por vontade, na busca de talento. Falo demais, me calo de menos. 
Fiz circo, me apaixonei. Fiz teatro, me apaixonei. Posso dizer que sou de muitas paixões. Não me orgulho de todas. Não escondo nenhuma.
Não sei se vou de calça ou shorts.
Danço sozinho. Falo sozinho. 
Odeio rotina. 
Odeio café-da-manhã. Amo café-da-manhã.
Filósofo do bom humor. Feminista. Leitor. 
Sou abstrato, sou quadrado.
Feliz. 
Alto.

CAPITULO 1:
Um balãozinho vermelho pulou na tela do computador: "Sofia Pontes Moreira te marcou em uma publicação". Tá, ok, daora. Cliquei. Um negócio estranho. Um tal de UWC. Nossa, legal! Um colégio internacional! Parece irado! Nossa, incrível! Caralho, que foda! Nossa, vou muito me inscrever! (mal sabia eu no que estava me metendo). Imprimi o cronograma do processo seletivo 2013-2015. Coloquei no meu mural.
Passaram uns meses, abriram as inscrições. Uma mãe relutante com milhares de dúvidas. "Mãaaaae, cê ja entrou no site pra ver? Daqui a pouco acabam as inscrições!". Pronunciei isso dezenas de vezes. No final das contas, ela viu. Me inscrevi. Um application escrito  às pressas. Enviei. 

CAPÍTULO 2:
Saiu a lista com todos os candidatos. Nóia que sou, contei a quantidade de candidatos. Não lembro quantos, exatamente. Éramos 200, 210. Uma certa Mostariana (?) me mandou uma mensagem: EI! adorei ver seu nome na lista de inscritos pro UWC Boa sorte, Pietro! Calhou que a prova do processo seletivo caiu bem no meu aniversário. Sábado. Dormi tranquilamente na noite anteiror, acho... 
Acordei, tomei um café-da-manhã meia boca (como sempre). Fui trocando SMS com a Mari (minha amiga do CISV) até chegar no Santa Cruz. Encontrei ela com uns amigos, todos extremamente simpáticos. Folheamos o guia de atualidades da Abril até que começaram a falar. Subimos para as salas de prova. A Mari estava na minha, o que me tranquilizou bastante visto que estava cercado de rostos estranhos. Fiz a prova. Fui almoçar em casa. Voltei pro colégio pra fazer a redação. Encontrei novamente a Mari, ficamos conversando. Vi um grupo de pessoas de rostos familiares chegando, no meio delas tinha uma certa japonesa que, mal sabia eu, viraria uma das pessoas mais especiais pra mim. Subimos. Havia estudado os dois temas no colégio. Escolhi o que havia me torturado por dois trimestres. Meu carrasco foi meu herói. Entreguei a redação, passei por rostos desconhecidos; um em especial, vestido com uma blusa azul. Saí da sala sem expectativa nenhuma. Nunca consigo estimar meu desmpenho. Fiquei conversando do lado de fora com candidatos e ex-alunos. Ri bastante. Descobri bem depois que, desses ex-alunos, uma era minha entrevistadora e dois eram meus selecionadores de convívio. 
O resultado só iria sair dois meses depois. Numa noite, estava sozinho em casa, caindo de sono. Resolvi descer o feed de noticias do Facebook uma última vez. Vejo na página do UWC Brasil que o resultado tinha saído antes. Cliquei no link. Desci tudo. Lá estava meu nome. "Pietro Tardelli Canedo - São Paulo". Não acreditei. Saí correndo pela casa! Mandei milhões de mensagens para a tal japonesa, a única além da Mari que eu "falei". Ela também havia passado! Tudo começou a ficar real. 

"Do título"

"Como esses primitivos que carregam por toda parte o
maxilar inferior de seus mortos,
assim te levo comigo, tarde de maio,
quando, ao rubor dos incêndios que consumiam a terra,
outra chama, não perceptível, tão mais devastadora,
surdamente lavrava sob meus traços cômicos,
e uma a uma, disjecta membra, deixava ainda palpitantes
e condenadas, no solo ardente, porções de minh’alma
nunca antes nem nunca mais aferidas em sua nobreza
sem fruto.
Mas os primitivos imploram à relíquia saúde e chuva,
colheita, fim do inimigo, não sei que portentos.
Eu nada te peço a ti, tarde de maio,
senão que continues, no tempo e fora dele, irreversível,
sinal de derrota que se vai consumindo a ponto de
converter-se em sinal de beleza no rosto de alguém
que, precisamente, volve o rosto e passa...
Outono é a estação em que ocorrem tais crises,
e em maio, tantas vezes, morremos.
Para renascer, eu sei, numa fictícia primavera,
já então espectrais sob o aveludado da casca,
trazendo na sombra a aderência das resinas fúnebres
com que nos ungiram, e nas vestes a poeira do carro
fúnebre, tarde de maio, em que desaparecemos,
sem que ninguém, o amor inclusive, pusesse reparo.
E os que o vissem não saberiam dizer: se era um préstito
lutuoso, arrastado, poeirento, ou um desfile carnavalesco.
Nem houve testemunha.
Nunca há testemunhas. Há desatentos. Curiosos, muitos.
Quem reconhece o drama, quando se precipita, sem máscara?
Se morro de amor, todos o ignoram
e negam. O próprio amor se desconhece e maltrata.
O próprio amor se esconde, ao jeito dos bichos caçados;
não está certo de ser amor, há tanto lavou a memória
das impurezas de barro e folha em que repousava. E resta,
perdida no ar, por que melhor se conserve,
uma particular tristeza, a imprimir seu selo nas nuvens."
- CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE, "Tarde de Maio"



Em uma tarde de Maio começou. Em uma tarde de Maio vai terminar